Até o pó dos ossos
"Até o pó dos ossos" A respiração, o boca-a-boca, não salvará ninguém. A contração dos nossos músculos é insuficiente. Eu quero que cheguemos até os ossos. A pele é banal. Pode ser despida junto com nossas roupas. Expostos os sistemas nervosos, chegaremos ao máximo — auge, clímax — mas ainda assim o desejo não será preenchido. Só se completará quando o pó dos nossos ossos sobrar. Seu amor se recusa a ser carícia. Eu suplico: me rasgue. Não quero a banalidade da nudez — quero a profundidade do esqueleto. Não quero gentileza. Busco voracidade. Beijos viram mordidas. Mordidas viram feridas. E eu jogo sal pra manter tudo pulsante. E repulsante. Isso não é brincar com fogo. É queimar numa fogueira. É a dor. Um bate, o outro apanha. Ninguém levanta. Não há vencedores. Isso não é competição — é contestação. Por favor, não me dê clemência. Eu quero prisão.