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Até o pó dos ossos

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  "Até o pó dos ossos" A respiração, o boca-a-boca, não salvará ninguém. A contração dos nossos músculos é insuficiente. Eu quero que cheguemos até os ossos. A pele é banal. Pode ser despida junto com nossas roupas. Expostos os sistemas nervosos, chegaremos ao máximo — auge, clímax — mas ainda assim o desejo não será preenchido. Só se completará quando o pó dos nossos ossos sobrar. Seu amor se recusa a ser carícia. Eu suplico: me rasgue. Não quero a banalidade da nudez — quero a profundidade do esqueleto. Não quero gentileza. Busco voracidade. Beijos viram mordidas. Mordidas viram feridas. E eu jogo sal pra manter tudo pulsante. E repulsante. Isso não é brincar com fogo. É queimar numa fogueira. É a dor. Um bate, o outro apanha. Ninguém levanta. Não há vencedores. Isso não é competição — é contestação. Por favor, não me dê clemência. Eu quero prisão.

Infelizmente, eu não sou a porra de um poodle de madame

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 Um manifesto de instinto, raiva e herança suja Eu não tenho pedigree, não tenho sobrenome, não tenho ideia de como posso rastrear a minha extensa e variada árvore genealógica. Meus pais, não campeões de concurso de beleza ou experts em agility , não chegaram de avião com certificações e prêmios. Nunca receberam um petisco por ter feito um truque — aliás, nunca aprenderam um truque sequer. Mas aprenderam na raça como serem cães de serviço. Com chicotadas nas costas, conseguiram puxar trenós, ignorar a fadiga e as patas em carne viva. Nunca puderam aprender pelo amor — foi sempre pela dor. A dor pedagógica que faz um cachorro colocar o rabinho entre as pernas e mostrar os dentes. Infelizmente, eu não sou a porra de um poodle de madame. Nunca tive nem ao menos um jornalzinho para fazer xixi. Eu nunca vou me acostumar com a ração premium depois de ter chafurdado no lixo delicioso da aristocracia. Não tive lacinhos cor-de-rosa, tosa higiênica ou fui castrada para controlar os ...

Uma vida Pós- Fracasso

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      Eu  nunca tirei as melhores notas, nem fui a mais bonita, magra ou interessante. Tudo que eu tentei, falhei, não sou nem uma coleção de fracassos, sou apenas uma colagem, nunca sequer consegui falhar por conta própria, tudo o que fiz, melhor não fiz, está pela metade. Eu não consegui virar a psicóloga que eu queria ser, a escrita, a jornalista, e nem mesmo a cartunista que sonhava. Nunca serei a esposa dos sonhos, que fez um homem se apaixonar à primeira vista ou mãe perfeita que se anima com o dever de casa e lê blogs de maternidade. De um fracasso atrás do outro, de sonhos destruídos, desnutridos e desanimados aqui estou. No último lugar de uma corrida na qual, hoje eu sei, que nem sequer tive chance de vencer. Será que há um lugar para mim? Como eu tornarei um terreno devastado em solo fertil para plantar um pequeno jardim?   A vida se torna mais palpável quanto os sonhos são pequenos e os desejos mais honesto. A honestidade nunca foi o meu ...